Da Folha, por Angela Pinho e Johanna Nublat:
COMENTO
A prender o sargento Alcântara, o Exército mostra (ou confirma) estar despreparado para o debate sobre a presença de homossexuais nos quartéis. Alega-se que Alcântara foi preso por que viajou a São Paulo sem autorização, além de ter usado uniforme com pequena alteração alterado. A viagem de Alcântara a São Paulo, para a entrevista à Rede TV! com o seu companheiro, o sargento Araújo, foi no dia 3 de junho. E por que a prisão só se deu agora, 13 de junho? Porque Alcântara denunciou ao Fantástico (ver vídeo abaixo) o caráter homofóbico do Exército na repressão a Araújo. O Exército dá mais um tiro pela culatra. Agora, como mais essa prisão, as entidades dos direitos humanos e as que representam os homossexuais terão mais um motivo para se mobilizarem. E assim a questão de soldados gays continuará posta ao debate, queira ou não o Exército.
"O Exército prendeu ontem o sargento Fernando Alcântara [foto]. Ele é companheiro do também sargento Laci de Araújo, preso há nove dias após dar uma entrevista à RedeTV!.
De acordo com o advogado de Alcântara, Marcos Rogério de Souza, a prisão tem prazo de oito dias e é resultado de um processo disciplinar.
Ainda segundo ele, o Exército deu duas justificativas: o sargento não poderia ter ido a São Paulo dar entrevista à TV sem autorização e usou um uniforme militar "alterado" nas fotos da revista "Época", que fez reportagem em que ele assumia a sua relação homossexual.
Em sua defesa, Alcântara afirma que "não houve uso de uniforme, e sim de uma camiseta com estampas camufladas semelhantes às de utilização no Exército".
Sobre a ida a São Paulo sem aval, sua defesa diz que ele viajou após o expediente e, não fosse a prisão de seu companheiro, voltaria antes.
O Exército também pediu a ele explicações por ter omitido a localização de seu companheiro, à época procurado sob a acusação de deserção. Ele respondeu que o decreto-lei nº 1.001, de 1969, isenta de pena quem vive de forma conjugal.
Alcântara atribui sua prisão à expressão de "homofobia estatal", já que ele pegou a maior pena de um processo disciplinar -a menor é a advertência.
Ele está na carceragem do Batalhão da Guarda Presidencial, a metros da carceragem de Araújo, no Batalhão de Polícia do Exército.
Segundo o advogado, a preocupação do sargento é com o estado de saúde de Araújo, que teria problemas neurológicos.
Uma comissão formada por um membro do Ministério Público do Distrito Federal e por uma deputada da Câmara Distrital tentou ontem ver Araújo, mas foi barrada -os militares exigiram autorização judicial.
A senadora Serys Slhessarenko (PT-MT) informou que tentou falar com o comandante do Exército, general Enzo Peri, para saber do caso, mas não conseguiu. A Folha procurou o Exército, que não respondeu.
A homossexualidade no Exército veio à tona após a prisão de Araújo. Segundo o Exército, ele é desertor. Os sargentos dizem ser perseguidos por causa da orientação sexual -o Exército nega."
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A prender o sargento Alcântara, o Exército mostra (ou confirma) estar despreparado para o debate sobre a presença de homossexuais nos quartéis. Alega-se que Alcântara foi preso por que viajou a São Paulo sem autorização, além de ter usado uniforme com pequena alteração alterado. A viagem de Alcântara a São Paulo, para a entrevista à Rede TV! com o seu companheiro, o sargento Araújo, foi no dia 3 de junho. E por que a prisão só se deu agora, 13 de junho? Porque Alcântara denunciou ao Fantástico (ver vídeo abaixo) o caráter homofóbico do Exército na repressão a Araújo. O Exército dá mais um tiro pela culatra. Agora, como mais essa prisão, as entidades dos direitos humanos e as que representam os homossexuais terão mais um motivo para se mobilizarem. E assim a questão de soldados gays continuará posta ao debate, queira ou não o Exército.
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